Do tecnicismo à globalização: letramentos virtualmente conhecidos
Edemir Fernandes Bagon
Com
a globalização, a necessidade de comunicação e de informação em tempo real
tornou-se um imperativo nas relações humanas. Tal exigência evidencia-se no
modo como a linguagem contemporânea é empregada na vida cotidiana das pessoas. A
linguagem é um reflexo dessas transformações socioculturais.
Hoje,
o internetês configura-se numa forma
de organização do discurso que atende aos anseios de milhões de pessoas em todo
o mundo. É usado em diferentes suportes (MSN, Facebook, Twitter, Orkut) conforme
a necessidade do usuário (bate-papo, comunidade, trabalho, entre outros). No
entanto, seu registro de natureza informal e dinâmica tende a se afastar dos
padrões estabelecidos pela Gramática tradicional.
Com efeito, os
tradicionalistas afirmam amiúde que o uso do internetês é uma das causas da falta de domínio e de conhecimento
da norma culta da linguagem. Nessa concepção, os novos letramentos
caracterizam-se como inadequados ao processo de ensino e aprendizagem da língua
materna.
Depois
da aplicação do modelo tecnicista de educação formal (Lei 5.692/71), observado
durante o Regime Militar, e o enfoque procedimental dado pelas propostas
curriculares elaboradas nos anos 80, com a redemocratização do país, muito se
discutiu a respeito dos efeitos dessas políticas públicas já sob impacto da
nova ordem mundial, nos anos 90: globalização
e neoliberalismo. Em conseqüência
disso, a temática fundamental dos novos tempos ficou sendo a qualidade total versus quantidade.
De
toda forma, o ensino da língua portuguesa nas escolas pressupõe um novo olhar
dos professores, principalmente, para o modo como os educandos interagem com o
mundo. Isso implica, portanto, rever práticas excludentes e/ou tradicionais –
cristalizadas ao longo da história – em favor de certos letramentos
significativos atualmente, dentre eles, o uso do internetês em sala de aula.
Em
outras palavras, é preciso reconhecer o fato de que se trata de um tipo de
linguagem na qual são utilizados recursos de expressão oral, de escrita alfabética,
de ideogramas, de pictogramas; e, sobretudo, exige do sujeito da enunciação a
capacidade linguística de análise e reflexão.
Uma escola voltada para o futuro
e para a democracia não pode ficar presa num passado de práticas
preconceituosas acerca da linguagem de sua clientela. Ela não deve ensinar
apenas sujeito e predicado, tampouco apenas redação
ou produção de texto. Mas revelar o
funcionamento da linguagem, seus processos e mecanismos de construção da vida
encontrada em todos os lugares - virtualmente
conhecida por boa parcela da população e que não pode ser discriminada.
Tudo muda rápido demais hoje em dia, e isso causa um certo espanto. Mas acredito que há um lugar para tudo, e com o tempo, as coisas se assentam - até mesmo o internetês. Bom dia!
ResponderExcluir