Pedro

Parecia perdido diante do portão de ferro da escola.  Aquilo tudo era para ele um mundo feito de concreto. Ali, naquela hora, zelava pelo acolhimento de seus dois irmãos. A mãe ficava no guichê, esperando atendimento. Os papéis de matrícula e a falta de sensibilidade dos atendentes.
O orgulho  e a inquietude da infância faziam dele um ser muito mais do que especial. Era ele os braços e os olhos do irmão menor (cadeirante), bem como a consciência do irmão do meio. De repente, seu nome foi chamado pela mãe. Teria que dar conta de encontrar o irmão mais novo. E, por entre os carros no estacionamento do prédio escolar, deslizou seus olhos na direção do outro (perdido, talvez?).
Sem querer, no entanto, encontrou uma mulher de olhos verdes sentada perto de uma coluna. Sentiu seu toque suave nos braços e um abraço foi trocado no tempo. Timidamente dissera seu nome ("Pedro").
O corpo franzino e as roupas sujas.
Outro abraço na forma interrogativa .

A mulher de olhos verdes perguntou:   

- Achou seu irmão? Sua mãe quer saber onde ele está.  

Pedro correu para um canto. Logo depois,  voltou com um sorriso (quase perfeito), empurrando uma cadeira de rodas de cor azul.
O irmão mais novo estava perto.
Estava salvo.

- Como se chama seu irmão?  
- Lucas. 
- Por que ele está na cadeira?
- Ele perdeu os movimentos das pernas, mas logo vai voltar a andar.


Edemir Fernandes Bagon



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