Rebanhos


o templo dos homens silencia

o tempo das rezas

o campo das guerras 


as crianças que choram

os velhos que ainda cantam

as mulheres que sentem a despedida dos filhos


os pés descalços de um deus

os apátridas dos sonhos

os néscios da vingança


as traições vendidas 

as moedas partidas

por entre os sicários do medo


desce o rio até o mar mais distante 

cortam os fios de luz o vazio de dentro

e com as flores do clero antigo o trigo se espalha em terras secas


por onde vai o que se perde por ter sido amante da estupidez?


o que se encontra por fora do desejo falso da imagem de um mito desumano:

o canto de liturgia e o cálice elevados para o ego dos pastores políticos

                              [o corpo cingido com uma tolha limpa, mas com as mãos e os pés sujos]

                                                         ou

o fim em si mesmo, o próprio homem dissecado em sua própria memória e seu desejo de poder?


os templos silenciam.


Edemir Fernandes Bagon








(REMBRANDT. O BOI ESFOLADO –
MUSEU DO LOUVRE, PARIS, 1655. ÓLEO SOBRE MADEIRA, 94CM X 69CM)


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