Cecília

Manhã de quarta-feira. Ainda cansada da jornada do dia anterior, Cecília arrumou-se  para o trabalho. Sabia que não poderia fazer corpo mole. Aluguel, água e luz para pagar. Era preciso passar na casa de Flora, sua irmã mais velha, e deixar suas filhas pequenas ali.
Recebeu um telefonema de seu ex-marido e discutiram como de costume. Ela chegou na estação de trem por volta das sete e quinze. Completaria o trajeto até a loja do centro da cidade. Olhou ansiosa para o letreiro, procurando ter uma ideia de quantos minutos se atrasaria. Saindo da estação, virou à esquerda, desceu uma rua e pronto. Lá estava.
Com o pouco movimento, Cecília esperava que a dona da loja fosse liberá-la antes das cinco da tarde. Entretanto, ficou encarregada de arrumar  o estoque após o fechamento. Com isso, garantiria algumas extras. Na sua condição, era necessário. Avisou à irmã que iria demorar para voltar. Falou com as meninas. Buscou forças.
Terminado o expediente, correu para a estação. Trem lotado. Uma amiga falava-lhe. Seu pensamento longe havia sido desfeito ao desembarcar. Era um pouco mais de nove da noite. Faltava-lhe pouco para chegar.  O namorado novo a esperava. Tinha motivos para acreditar que poderia ser diferente a vida. 
Um passo, dois - e as mãos de ambos se tocaram. Um leve toque nos lábios. A paz encontrada. Era tudo bem diferente daquilo vivido em seu casamento. 
Flora a esperava. As meninas vieram também. Sérgio acompanhou-as até o portão. Ele despediu-se carinhosamente de Cecília e de suas filhas. 
Alguns minutos depois, a vizinhança ouvia três disparos de arma de fogo. "Sérgio", sentiu Cecília. 
Carros de polícia. Um grupo de pessoas na rua. Perícia. IML. Investigação e constatação do que parecia ser óbvio: a prisão do ex-marido.  


Edemir Fernandes Bagon

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